Se fosse viva, Sophia de Mello Breyner Andresen fazia hoje cem anos. Nasceu no Porto, no dia 6 de novembro de 1919.
As histórias infantis que escreveu atravessam gerações e a sua poesia é descrita como luminosa e transparente. Foi a primeira mulher a receber o Prémio Camões.
Em jeito de celebração da vida, destacamos o que nos dizem alguns escritores, que nos falam da magia e da febre de ler Sophia.
1- “Nunca virou costas àquilo que era a sociedade, que eram os desafios do tempo, que era a interpretação do seu mundo.”
Lídia Jorge
2- “Foi uma mulher poeta de primeiríssima qualidade. Há sempre uma vontade de ler os seus poemas com muita atenção à utilização de cada palavra que tem um sentido, nada é ao acaso.”
Mário Zambuzal
3- Sophia marcou-me pelo rigor, pela beleza e pela forma como constrói uma obra que condensa uma parte bonita daquilo que somos enquanto povo, enquanto cultura”.
José Luís Peixoto
4- “Alimento-me da poesia para escrever ficção e a Sophia é uma companhia permanente: é depurada, limpa, cheia de luz”.
José Eduardo Agualusa
5- “Ensinou-me a olhar para as palavras e vê-las como coisas luminosas. Ajudou-me a perceber que a simplicidade é um luxo. E, ainda, que dizer as coisas é a melhor maneira de ver as coisas”.
Jacinto Lucas Pires
6- Gosto tanto da poesia dela, desarma pela simplicidade. Expõe-nos sem no-lo avisar. Poucos conseguiram uma poesia com tanto requinte e sem recurso a (quase quaisquer) artifícios”.
Raquel Ochoa
7- “ Já li e reli “O Cavaleiro da Dinamarca”, mesmo enquanto adulta. O que ela escreveu é bonito e sensato. A sua escrita não é vazia, reflete a sua posição enquanto cidadã”.
Dulce Maria Cardoso
8- “A fada Oriana” e “O Cavaleiro da Dinamarca” são talvez das primeiras histórias de que me lembro, um primeiro contacto com os livros”.
Afonso Cruz
9- “Uma grande poeta e também uma figura importante na luta contra o fascismo, com grande dignidade e coragem”.
Ana Maria Magalhães
(in D mais, Porto Editora)
Deus escreve direito por linhas tortas
A vida não vive em linha reta.
Em cada célula do homem estão inscritas
a cor dos olhos e a argúcia do olhar,
o desenho dos ossos e o contorno da boca.
Por isso te olhas ao espelho
e no espelho te buscas para te reconhecer.
Em cada célula, desde o início,
foi inscrito o signo veemente da tua liberdade,
pois foste criado e tens de ser real.
Por isso, não percas nunca teu fervor mais austero,
Tua exigência de ti, e, por entre
espelhos deformantes e desastres e desvios
nem um momento só podes perder
a linha musical do encantamento,
que é teu Sol, tua Luz, teu Alimento.
Sophia de Mello Breyner Andresen
